terça-feira, 26 de outubro de 2010

O menino artista

“ Menino vaga-lume, flor, menino estrela
A brisa mais forte veio te buscar”
                                                                   (Fernando Anitelli - O Teatro Mágico)

Ao meu grande amigo Fernando Gimenes.


Papel, caneta, envelope… Quem é que ainda escreve cartas nos dias de hoje? Eu escrevo! Não há nada como o cheiro do papel, a tinta escorrendo enquanto desenha palavras..., palavras que podem ser tocadas, como se pudessem ser tocadas também as experiências descritas ali.
           Eu adoro o Natal. Porque assim como eu, ainda existem pessoas que enviam cartões à moda antiga, que não se satisfazem em ver um Papai Noel saltando na tela do computador com um ensurdecedor HOHOHO e a irritante melodia natalina computadorizada que insiste em cantar todas as vezes que o cartão é visualizado. Prefiro mesmo esperar semanas checando a caixa do correio diariamente e sentir o coração pular quando o envelope é encontrado. Que alegria desfazer o lacre e tocar o papel dobrado em quatro e ao invés de renas dançantes, ver aquela letra gorducha tentando se mostrar na melhor forma ir emagrecendo e deitando, não contendo a emoção.
Não era apenas um cartão, era uma carta de Natal que recebia todos os anos do menino artista, menino que abriu as cortinas dos meus olhos para um mundo novo, um mundo onde eu posso ser o que eu quiser ser, um mundo colorido e sombrio às vezes, um mundo engraçado, às vezes choroso, enfim, um mundo de possibilidades que só a arte pode nos dar.
Eu acompanhei lá da platéia o menino artista se tornar o homem artista no palco e sempre o aplaudi de pé porque sempre enxergava além do personagem, além da cena, além do trabalho do ator, eu via o desabrochar daquele que todos os dias eu tinha visto sentado ao meu lado de uniforme azul marinho. Caio Fernando Abreu já havia me alertado que é difícil ficar adulto, mas são as pessoas que nos cercam que fazem esse processo menos doloroso e mais suportável. E as cartas de Natal com certeza funcionaram como remedinhos paliativos.
O menino artista segue seu destino brincando de estrela e quanto a mim, eu conto os dias até o próximo Natal.

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